Friday, August 1, 2014

Os meus cadernos / My sketchbooks

Não sou por natureza um experimentalista: Sempre que me sinto confortável com uma forma de trabalhar, tenho tendência a explorá-la até que a mesma esteja totalmente esgotada, seja porque se tornou maçadora, porque a “fórmula” já não traz novidade, ou então porque a capacidade visual, diminuída pelo declínio próprio da idade, torna de repente cansativo o que até aí era ágil. No caso das pequenas aguarelas que deram o nome a este blogue, tem vindo a acontecer um pouco a soma de tudo isso, acrescida de recentes mudanças que subtraem à vida diária uma substancial fatia de tempo e não raramente de energia; Não é preciso muito mais para se perceber que vai sendo mais do que altura para procurar novos caminhos...
I´m not an experimentalist by nature: If I feel comfortable with a working method, my tendency is to explore it until it gets completely drained, either because it became boring, because the formula is no longer bringing anything new, or simply because the eyesight decline, due to age, suddenly transforms agility into tiredness. In the case of the small watercolors that gave their name to this blog, a mix of all of this has been happening, increased by recent changes that subtract a good slice of time and energy to the daily life; It doesn't take too much to understand that it is about time to start looking for new ways...
Assim, encontrando-me desde há vários meses nesse lugar inquietante que é o espaço entre o fim de um projecto e o começo de outro que não sabemos quando e como vai ser, tenho vindo a manter-me activo com a libertadora experiência de desenhar e pintar em cadernos, sem outro objectivo que não seja o prazer de o fazer. Com esta prática descomprometida, não só não se perde o treino, como ainda se liberta a mão, algo enferrujada após anos seguidos a fazer sempre o mesmo tipo de coisa.
Um caderno de desenho é um objecto magnífico: Bonito e convidativo enquanto novo e cheio de páginas por estrear, e um poderoso avivador de memórias quando preenchido e, não raro, sujo e gasto. Descobri o prazer de me ver rodeado deles, mesmo se alguns, por esta ou aquela razão, vão perdendo o fôlego a menos de meio do seu percurso, mas o facto de isso não ter importância nenhuma só reforça ainda mais a sua... importância.
Actualmente, o tempero dos meus dias é composto de vários cadernos em formatos, papéis e finalidades diversas. Aqui passo a descrever os mais significativos:
So, being myself for several months in this disquieting place that is the gap between the end of a project and the beginning of a new one which I do not know when and how it will be, I've been keeping myself active with the liberating experience of drawing and painting in sketchbooks, with no other goal than the pleasure of doing so. With this uncompromising practice, not only I can keep my training as I can set my hand free, after many years doing always the same kind of stuff.
A sketchbook is a magnificent object: Beautiful and inviting while new with plenty of pages waiting to be filled, and a powerful memory enlightener when finished, not seldom dirty and worn. I found the pleasure of being surrounded by them, even if for some reason a few of those will get “out of breath” in less than half of their way, but the fact that this doesn't have any importance only reinforces their... importance.
Currently, my days are seasoned by a handfull of sketchbooks in several shapes, papers and purposes. Here are the most significant:
Como a minha rotina se divide entre dois lugares separados entre si por pouco mais de meia centena de quilómetros, tenho sempre em cada um deles um caderno para as minhas paisagens imaginárias, velha paixão que assim transponho dos “esboços do dia”, agora quase sempre acrescidos da côr, mas sem o antigo propósito, por vezes condicionante, de cada um deles dever ser um potencial candidato a uma posterior aguarela. São apenas esboços que como tal nascem e como tal morrem, por vezes inacabados, e sem importar para nada a qualidade final.
Since my daily routine is split between two places separated by a few more than half hundred quilometres, I keep a sketchbook in each of them for my imaginary landscapes, the old passion transposed from my “Today's sketches”, now mostly with the addition of color, and free from the old purpose, sometimes restricting, of being eventual candidates for subsequent watercolors; They're just sketches, and as sketches they shall born and die, sometimes unfinished, no matter how good they turn out in the end.
Tenho também um diário gráfico que me acompanha para todo o lado, no qual vou registando os poucos acontecimentos que teimam em ter lugar na minha insignificante e estagnada existência, e que na sua maioria se resumem a uma planta que floriu, um fruto que caiu da árvore ou uma qualquer proeza dos meus incontáveis amigos felinos. Esta tem vindo, contudo, a revelar-se para mim a mais útil das ferramentas, uma vez que me vai permitindo praticar o desenho ao vivo, algo que não tinha o hábito de fazer. Tem sido uma fonte inesgotável e estimulante de descoberta e aprendizagem, e compreendo agora porque a prática do diário gráfico é tão vivamente aconselhada e recomendada, mesmo para quem acha que não sabe de todo desenhar: Estes descobrirão com surpresa uma aptidão até aí adormecida, ao passo que aqueles que achavam que já sabiam qualquer coisa chegarão à conclusão de que afinal não sabem é coisa nenhuma... como aconteceu no meu caso!
Apesar do meu diário gráfico já ir no “segundo volume”, sem conter nada de especialmente íntimo ou pessoal, e não obstante a imagem acima colocada para efeitos demonstrativos, por enquanto não me sinto inclinado a partilhá-lo.
There's also a sketch journal I carry everywhere, in which I record the few events that insist to take place in my insignificant and stagnated existence, mostly consisting in a plant that came to flower, a fruit fallen from its tree, or some feat by my countless feline friends. This has been, however, the most useful of all tools, as it allows me to practice drawing from life, something I never used to do. It's been a never ending and stimulating source of learning and discovery, and I understand now why keeping a sketch journal is so hightly recommended, even for those who think they can't draw a line: These will be surprised to find quite a few asleep skills, while others that thought they knew a thing or two will conclude that they didn't know anything after all... as happened to me.
Despite my journal is now in its “second volume”, without any excessively intimate or personal content, and with the page shown above for demonstration purposes as an exception, I don't feel inclined to share it for the moment.

E por último, o caderno mais especial e apetecido, o mais precioso e aguardado: O caderno das “saídas de campo”, para desenhar ao vivo nos locais inspiradores que me aguardam por esses montes e aldeias fora. Ok: A verdade é que ainda nem sequer o tenho comigo, pois fiz questão de encomendar um dos melhores para o efeito. Mas mesmo que já o tivesse, estaria vazio à mesma, dada a escassez de oportunidades para o usar uma vez que, excepção feita ao movimento pendular acima descrito, nos tempos que correm me é extremamente difícil viajar para onde quer que seja, mesmo localmente. Mas a vontade é muito forte, tão forte que alguma coisa se há-de arranjar, nem que seja por umas tardes dispersas.
And to finish, the most special and wanted of all sketchbooks, the most precious and awaited: The one for the outdoor excursions, to draw from life in the inspiring places that wait for me in those mountains and villages. Ok: The truth is that I still do not have it with me, as I insisted in ordering one of the best for this purpose. But even if I had, it would be blank as well, due to the scarcity of chances to use it as, apart from my commuting jouneys, currently it's very difficult for me to travel, even locally. But the desire is strong, so strong that something may be arranged, even if only for a few scattered afternoons.